segunda-feira, 4 de março de 2013

Opinião – Tim de Colleen McCullough

Colleen McCullough

Titulo: Tim
Autor: Colleen McCullough

Titulo Original: Tim
Ano de Publicação Original: 1974

Editora: Revista Sábado
Ano: 2009
Tradução: Maria do Carmo Cary
Páginas: 199
ISBN: n/disponivel

Sinopse: Num bairro acomodado de Sydney, Austrália, um grupo de operários trabalham na casa ao lado da de Mary Horton, uma mulher madura e solteira, cuja vida tem sido basicamente dedicada ao trabalho. Quando o seu olhar encontra entre os pedreiros Tim Melville, um jovem de perturbadora beleza e sorriso resplandecente, que padece de uma deficiência mental, Mary pede-lhe que se encarregue do seu jardim e acaba por desenvolver uma profunda amizade com o jovem adónis. Uma relação que modificará ambos, já que a luz interior dele acabará por regenerar a sua vida, e a sua sabedoria despertara nele um desejo de melhoria pessoal.

Opinião: Com tanto que esta autora já tinha sido falada por aqui, impunha-se que lesse mais livros da sua autoria. Resolvi fazê-lo começando pelo início ou seja pelo primeiro livro que escreveu, e que já tinha há algum tempo por ai nas prateleiras. Trata-se de uma edição da revista Sábado, que nessa altura nos brindou com alguns títulos óptimos a preços muito simpáticos.

 Não sendo um romance excepcional e mesmo estando longe de ser uma obra-prima, gostei desta leitura principalmente pelos temas que aborda, uma relação entre 2 seres humanos que não podiam ser mais diferentes e as deficiências do ser humano.

As personagens Mary Horton e Tim Melville estão bem caracterizadas, definidas pelas suas diferenças, embora a constante chamada de atenção para a extraordinária beleza de Tim por vezes seja um pouco enervante. Mas gostei do contraste, da atração entre uma quarentona, inteligente e decidida, mas feia e sentimentalmente “deficiente” e um jovem extremamente belo, com uma enorme capacidade de amar, mas imaturo e mentalmente “deficiente”. De tão diferentes que são, acabam por se completar na perfeição.

Destaco ainda a personagem John Martinson, que num discurso frontal e franco consegue alertar-nos para a realidade e fazer a obstinada Mary Horton mudar de opinião.

O que retiro deste livro é essencialmente a noção de que no fundo todos temos "deficiências" seja num aspeto ou noutro, e que muitas vezes quanto mais inteligentes somos mais complicamos a vida e aquilo que ela tem de mais simples. Dei por mim nalguns momentos a admirar a simplicidade de Tim, a sua visão descomplicada do mundo e dos sentimentos. Este livro fez-me também refletir sobre a importância que damos à opinião dos outros, muitas vezes sem nos apercebermos, e o quanto podemos estar a perder ao agirmos em função do que os outros poderão pensar.

Não foi uma leitura que me deslumbrasse, mas penso que em parte isso se deve ao facto de se ter seguido a uma leitura que me arrebatou por completo, e mesmo sem querer acabo por fazer comparações que não devia. Sendo este o primeiro livro escrito por esta autora penso que a escrita ainda demonstra alguma inexperiência, mas é clara e fluída, sem pretensiosismos, e sem cair nas lamechices que muitas vezes vemos associadas a temas como estes.

Para finalizar deixo também um pequeno excerto, parte da conversa que referi entre John Martinson e Mary Horton:

"- Pense numa coisa que lhe vou dizer, Mary. Porque é que Tim não há-de casar? Porque é que o Tim há-de ser diferente dos outros homens? Pode garantir-me que o considera como um homem, mas não estou de acordo. As únicas vezes em que pensou nele como se fosse um homem ficou horrorizada consigo mesma, é ou não é verdade? Cometeu o mesmo erro que toda a gente comete em relação aos atrasados mentais. Na sua ideia Tim não passa de uma criança que nunca cresceu nem há-de crescer. Mas ele não é uma criança, Mary! Tal como as pessoas normais, os atrasados mentais crescem e mudam com a idade; deixam de ser crianças, no âmbito limitado das suas capacidades de desenvolvimento psíquico. Tim é um homem adulto, com todos os atributos físicos do homem adulto e com um metabolismo hormonal completamente normal. Se ele tivesse sofrido uma lesão numa perna ficava coxo; como a lesão dele foi no cérebro, coxeia mentalmente, mas essa incapacidade não impede que seja um homem, tal como o seria com uma perna aleijada." (pág. 156)


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