Titulo: Cada Dia é um Milagre
Autor: Yasmina Khadra
Titulo Original: L'Équation africaine
Ano de Publicação Original: 2011
Editora: Bizâncio
Ano: 2012
Tradução: Maria Carvalho
Páginas: 299
ISBN: 9789725305065
Sinopse: Na sequência de um terrível drama familiar, e a fim de superar a sua mágoa, o doutor Kurt Krausmann aceita acompanhar um amigo às Comores. O seu veleiro é atacado por piratas ao largo do litoral somali, e a viagem «terapêutica» do médico transforma-se num pesadelo. Feito refém, espancado, humilhado, Kurt vai descobrir uma África de violência e de miséria insuportáveis onde «os deuses já não têm pele nos dedos de tanto lavarem as mãos». Com o seu amigo Hans e um companheiro de infortúnio francês, descobrirá Kurt a força necessária para superar esta provação? Oferecendo-nos esta viagem surpreendente de realismo que nos transporta, da Somália ao Sudão, para uma África Oriental alternadamente selvagem, irracional, circunspecta, orgulhosa, digna e infinitamente corajosa, Yasmina Khadra confirma mais uma vez o seu imenso talento de narrador. Construído e conduzido com mão de mestre, este romance descreve a lenta e irreversível transformação de um europeu, cujos olhos se vão abrir, pouco a pouco, para a realidade de um mundo até então desconhecido para ele. Um hino à grandeza de um continente entregue aos predadores e aos tiranos genocidas.
Opinião: Gostei tanto deste livro e retirei tanta coisa dele que gostava de vos transmitir que nem sei bem por onde começar esta opinião e temo não o conseguir fazer como pretendia. Mas começo por dizer que apesar de ainda não conhecer este autor argelino quando peguei no livro, já tinha ouvido tantas opiniões excelentes a seu respeito, que as minhas expectativas eram bem altas. Quando isto acontece temo sempre desapontar-me, mas neste caso todas a minhas expectativas foram largamente superadas.
O livro está divido em 3 capítulos, e logo no primeiro o autor relata-nos as circunstâncias da morte da mulher do protagonista, o quanto este sente a sua falta, o lugar que ela ocupava na sua vida. À semelhança do livro que li anteriormente também este tem uma perspectiva magnífica da morte e da dor que a acompanha. Assistimos ao sofrimento do protagonista de uma forma tão verídica que o sentimos quase nosso. O segundo capítulo conta-nos os acontecimentos em África, que são brutais, cruéis, revoltantes. Ao mesmo tempo que nos dá uma visão bastante imparcial de uma parte de África pouco conhecida da maioria de nós, o autor faz-nos reflectir sobre a natureza humana, o valor da vida, a importância que por vezes não damos aos pequenos detalhes e a tudo o que de mais precioso possuímos e tantas vezes só valorizamos quando perdemos. Mas é no terceiro e ultimo capítulo que tudo se encaixa, que a esperança renasce, que vemos o quão magnifica é esta história no seu todo.
Poderia aqui dizer que gostei deste livro porque a escrita do autor é sublime e poética, porque me ensinou imenso sobre uma parte de África que pouco conhecia, porque as personagens estão muito bem caracterizadas, desde a transformação de Kurt, ao peculiar Bruno, passando pelo enigmático Blackmoon, com o meu destaque para o contraditório Joma que foi o que mais me marcou.
Tudo o que citei acima seria o suficiente para ter gostado muito do livro, mas o que realmente me fez render foi a capacidade do autor, de me fazer repensar opções, relativizar contrariedades, rever prioridades. Poucos livros têm esta capacidade, de nos renovar a esperança, de nos fazer acreditar. Em resumo, um livro magnífico, comovente, que me tocou bem fundo, e sem dúvida um autor a reler. Recomendo sem qualquer hesitação.
Para terminar queria deixar-vos um excerto, mas foram tantas as passagens que me marcaram que o difícil foi escolher e opto por deixar dois:
«É verdade que somos pouca coisa. Mas, neste corpo perfeito que a idade desarticula ao sabor das estações e que o mais ínfimo micróbio prostra, existe um território mágico onde nos é possível ganhar novamente controlo sobre nós. É nesse lugar oculto que dormita a nossa verdadeira força, isto é, a nossa fé no que pensamos ser bom para nós. Se acreditarmos, ultrapassaremos qualquer desgraça. Porque nada, nenhum poder, nenhuma fatalidade nos impedirá de nos levantarmos e de nos realizarmos se acreditarmos plenamente naquilo que nos faz sonhar. É evidente que seremos chamados a enfrentar provações ferozes, combates titânicos, altamente dissuasores. Mas se não desistirmos, se continuarmos a acreditar, triunfaremos dos impasses. Porque só valemos o que merecemos, e a nossa salvação inspira-se nesta lógica elementar: ‘Quando duas forças contrárias se enfrentam, o fracasso sancionará a menos motivada.’ Por conseguinte, se quisermos vencer, façamos com que as nossas convicções sejam mais fortes que as nossas dúvidas, mais fortes que a adversidade.» (pág. 142)
"Vive cada manhã como se fosse a primeira
E deixa ao passado os remorsos e as más acções,
Vive cada noite como se fosse a última
Porque ninguém sabe de que será feito o amanhã"
(pág. 299)
E a minha classificação não podia deixar de ser
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