Victor Mancini especializou-se numa forma bizarra de demonstrar o seu amor pela mãe e, em particular, de continuar a pagar a respectiva conta do hospital. De restaurante em restaurante, Mancini finge-se engasgado pela comida, à beira da mais patética asfixia. Ele sabe que a piedade do género humano é muito previsível. Assim, há sempre alguém que o salva. Aí começa, se não uma grande amizade, pelo menos uma relação de protecção para o resto da vida. Com uma componente que Mancini cultiva com sofisticada prudência: semana sim, semana não, ele vai recebendo cheques dos seus salvadores…
Entretanto dedica-se a diversas obras humanitárias, incluindo o tratamento dos mais diversos párias da sociedade. A sua especialidade: cuidar de viciados de sexo que ele gosta de reunir, à volta de uma mesa, em sessões de terapia colectiva.
Joyce e Marshall são casados e têm dois filhos. No dia 11 de Setembro de 2001, Joyce pensa que o marido está no seu escritório, nas Torres Gémeas, quando elas caem; por sua vez, ele acha que a mulher está a bordo do voo 93 que se despenhou na Pensilvânia. Cada um fica eufórico ante a perspectiva da morte do outro. Ambos vão sofrer uma grande desilusão quando se encontram frente a frente no apartamento que são obrigados a partilhar enquanto o processo de divórcio decorre. Pior, a perspectiva de uma solução rápida para a separação complica-se devido ao clima de medo que se apodera dos americanos. Entre ameaças de ataques biológicos, bombistas suicidas e guerras no Médio Oriente, Nova-Iorque é uma cidade em estado de choque, onde, por sua vez, Joyce e Marshall travam uma batalha doméstica repleta do mesmo sentimento de perda e devastação.
No tempo de Luis XIV (1638-1715), ter a mulher na alcova do monarca era para um nobre uma inesgotável fonte de privilégios. Não admira, por isso, que no dia em a escolha daquele que foi cognominado o Rei-Sol recai sobre Madame de Montespan, a corte em peso felicite o afortunado marido. Era conhecer mal o marquês de Montespan: Louis-Henri de Pardaillan está perdidamente apaixonado pela sua esposa e nada o dispõe à complacência para com o favor real. Inconsolável, o marquês faz pintar o seu coche de um preto de luto, ornamenta-o com gigantescos cornos e empreende uma guerra sem tréguas contra o homem que ousou profanar uma união tão perfeita. Recusando honras e prebendas, indiferente a ameaças, a tentativas de assassinato, a processos que o levaram ao cárcere e à ruína, o temperamental gascão persegue com o seu ódio o homem mais poderoso do planeta, na tentativa vã de resgatar a sua amada.
O talento e a verve de Jean Teulé prestam uma homenagem a um singular e esquecido personagem, um dos primeiros homens que ousou enfrentar abertamente um poder férreo e absoluto que só viria a ser destruído muitos anos mais tarde, com a Revolução Francesa.
A cidade costeira de Crosby, no Maine, um local aparentemente igual a tantos outros, parece conter em si o mundo inteiro, com as vidas dos seus habitantes a transbordarem de grandes dramas humanos: desejo, desespero, ciúme, esperança e amor. Umas vezes implacável, outras vezes paciente, perspicaz ou em negação, Olive Kitteridge, uma professora reformada, lamenta as mudanças da sua pequena cidade e do mundo em geral, mas nem sempre se apercebe das mudanças ocorridas naqueles que a rodeiam: numa pianista de bar assombrada por um antigo romance passado; num antigo aluno que perdeu a vontade de viver; no seu próprio filho adulto, que se sente tiranizado pelo seu temperamento irracional; e no seu marido, Henry, que vê na sua fidelidade ao casamento tanto uma bênção como uma maldição.
À medida que os habitantes da cidade vão lidando com os seus problemas, de forma calma ou furiosa, Olive é levada a uma profunda compreensão de si mesma e da sua vida ¿ por vezes de maneira dolorosa, mas sempre cruamente honesta. Olive Kitteridge oferece-nos uma perspectiva profunda da condição humana, com os seus conflitos, as suas tragédias e alegrias, e a resistência por ela exigida.
Desde as terras campestres da Rússia até à inóspita pampa argentina povoada de índios, uma menina de doze anos, abandonada pelos pais, deverá empreender a sua missão mais importante: viver.
A extraordinária vida de Olga começa na faustosa Rússia dos últimos czares Romanov, quando, com somente doze anos, a sua família decide abandonar o seu país, deixando para trás tudo o que tinha, inclusivamente uma das suas irmãs. Começa então uma grande viagem que os levará a Inglaterra e Canadá, antes de chegarem à longínqua e desconhecida Argentina, onde a família se separará definitivamente.
Ali, a pequena Olga começará uma nova vida plena de dificuldades, que enfrentará da melhor maneira possível. Terá de ultrapassar novas separações e notícias infelizes, duas guerras mundiais que a atingirão profundamente, mas também conhecerá o amor e iniciará a sua própria família, reencontrará pessoas que julgara desaparecidas e trabalhará nas suas próprias terras na pampa argentina.
Quando Peter Hithersay descobre aos 16 anos que o pai não é o afável inglês que está casado com a sua mãe e sim um dissidente político da Alemanha do Leste com quem ela teve um romance fugaz na década de 1960, decide ir a Leipzig em busca do seu passado. Durante a sua breve incursão ao outro lado da Cortina de Ferro, apaixona-se por uma bela jovem que está a despertar politicamente e a questionar o modo como o seu país é governado. A sua situação comove-o, o seu amor excita-o, mas ele tem demasiado medo para a ajudar. De regresso ao seu país, Peter vai passar dezanove anos a fingir que não a ama, até que um dia, já com a Alemanha reunificada, não consegue continuar a reprimir os seus sentimentos e decide voltar e procurá-la. Mas quem é ela agora, como é que o facto de um dia a ter abandonado afectou a sua vida e como poderá encontrá-la? As suas únicas pistas são a alcunha dela - Snowleg - e os arquivos do Estado que os separou.
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