domingo, 29 de dezembro de 2013

Opinião – Mapas para Amantes Perdidos de Nadeem Aslam

Nadeem Aslam

Titulo: Mapas para Amantes Perdidos
Autor: Nadeem Aslam

Titulo Original: Maps for Lost Lovers
Ano de Publicação Original: 2004

Editora: Edições Gailivro
Ano: 2006
Tradução: Vera Falcão Martins
Páginas: 553
ISBN: 9789895572359

Sinopse: Numa cidade sem nome, Jugnu e a sua amante, Chanda, desapareceram. Os boatos abundam na coesa comunidade paquistanesa até que, numa manhã de Janeiro em que a neve formava um imenso manto branco, os irmãos de Chanda são detidos por suspeita de homicídio. Mapas para Amantes Perdidos narra os acontecimentos que se desenrolaram nos doze meses seguintes. Aquilo que se segue é um esclarecimento de tudo aquilo que é sagrado para o irmão e a cunhada de Jugnu, Shamas e Kaubab. À medida que as estações se sucedem, Kaubab tenta desesperadamente manter a sua piedade islâmica enquanto se debate por conseguir superar o duplo homicídio e o efeito corrosivo que este exerceu no seio da sua família. Mapas para amantes Perdidos descerra o coração de uma família na encruzilhada entre a cultura, a comunidade, a nacionalidade e a religião, expressando a sua dor, as suas ânsias e os seus desejos numa linguagem que é cativantemente poética, uma linguagem que vivifica igualmente, de forma bela e fulgurante, a paisagem, a luz, os insectos, os pássaros.

Opinião: Não me lembro de alguma vez ter demorado esta eternidade para ler um livro com pouco mais de 500 páginas. Se por um lado a minha falta de tempo livre nos últimos meses, aliada a um novo hobbie que me tem ocupado demasiado tempo, são dois dos motivos, por si só não o justificam. A causa principal foi ter sentido uma incrível incapacidade de ler muitas páginas seguidas deste livro, incapacidade essa que não me recordo de ter experimentado antes, pelo menos não num livro de que gostei, como foi o caso deste. Se bem que se o autor levou onze anos a escrevê-lo, talvez se justifique que eu tenha demorado dois meses para o ler :)

Gostava de vos conseguir explicar melhor esta minha incapacidade, mas é complicado, pois não tenho a certeza de eu própria a ter compreendido bem. É um livro carregado de sensações de tristeza e desalento que emanam das suas páginas ao ponto de me impedirem de conseguir assimilá-las em grandes doses. Tive de o fazer lentamente.

Este foi sem dúvida um dos livros mais tristes que li até hoje. E por triste não entendam piegas ou lamechas, porque pelo contrário é um livro sem excessos de sentimentalismo, mas que fala de gente sem esperança, desenraizada, de sonhos não concretizados, de solidão, de famílias disfuncionais.

Tudo gira em torno da história de amor de Chanda e Jugnu e do seu desaparecimento, no entanto estes personagens são apenas o pano de fundo, um elo comum, que nos permite conhecer o ponto de vista das várias personagens que faziam parte das suas vidas. A empatia com estes personagens no meu caso foi completa, embora tenha detestado alguns, consegui sempre compreendê-los, sentir a sua motivação, os seus anseios e receios. Senti profundamente as suas frustrações e desilusões, ao ponto de quase nem me atrever a esperar que algo lhes corresse bem.

É também um livro repleto de colisões, como um enorme carrossel em que todos os personagens se chocam. Um choque de culturas entre os emigrantes paquistaneses e os seus anfitriões culturalmente tão distantes, neste caso os ingleses mas poderiam ser os franceses, os portugueses, enfim qualquer povo europeu. Um choque religioso entre emigrantes paquistaneses e indianos. Dentro do grupo original de emigrantes há choques de mentalidade, entre os que se esforçam para rigidamente manter as tradições do seu país/religião, e os que pelo contrário de esforçam por se adaptar ao novo país que habitam. E por ultimo existe ainda o choque de gerações entre os emigrantes originários do Paquistão e os seus filhos na maioria já nascidos no país anfitrião.

A escrita do autor é cuidada e por vezes algo poética, e embora uma ou outra vez se perca em devaneios sobre a paisagem, as estações, os insetos ou os pássaros, não o faz ao ponto de tornar a leitura demasiado aborrecida. Pelo contrário dá-nos uma excelente perspectiva do povo paquistanês, da sua cultura, hábitos, religião e até gastronomia, e de uma forma bastante imparcial. Para quem, como eu,  pouco sabia sobre o Paquistão foi uma óptima aprendizagem. Nota-se também que este foi um romance ponderado ao pormenor, bem estruturado ou não tivesse ele levado tantos anos a ser escrito.

Em suma é um livro belo mas triste de que gostei bastante e cuja leitura recomendo sem hesitações, apenas não o façam se estiverem numa fase depressiva das vossas vidas.

Termino com alguns excertos:

"Ela voltou para casa, chocada com a veemência daquele discurso. Ao longo do caminho que percorrera até à loja, pensara que a família teria perdoado o casal, que os pais se teriam lembrado de que todas as pessoas amavam alguém antes do casamento, sendo o amor um fenómeno tão remoto e sagrado como Adão e Eva. As mulheres gracejavam entre si:
 - Por que achas que uma noiva chora no dia do seu casamento? Pelo amor ao qual esse mesmo casamento põe termo para toda a eternidade. Os homens podem pensar que uma mulher não tem passado – “nasceste e, em seguida, eu casei contigo” -, mas os homens são tolos." (pág. 107)

" Será que ela pensa que as pessoas a julgariam? O mundo não passa constantemente sal pelas nossas feridas: pelo contrário revestiu-nos de sal de antemão para que, sempre que nos ferimos seja duplamente doloroso. "  (pág. 424)



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