quinta-feira, 25 de abril de 2013

Opinião – Pequena Abelha de Chris Cleave

Chris Cleave

Titulo: Pequena Abelha
Autor: Chris Cleave

Titulo Original: The Other Hand
Ano de Publicação Original: 2008

Editora: Edições Asa
Ano: 2011
Tradução: José Vieira de Lima
Páginas: 266
ISBN: 9789892313177

Sinopse: Não queremos contar-lhe O QUE ACONTECE neste livro. Esta é uma HISTÓRIA MESMO ESPECIAL e não queremos desvendá-la.
Ainda assim, vai precisar de saber um pouco mais sobre ela para querer lê-la, por isso, vamos dizer apenas o seguinte:
Esta é a história de DUAS MULHERES. Os seus destinos vão cruzar-se UM DIA e uma delas terá de fazer UMA ESCOLHA terrível, o tipo de escolha que ninguém deseja enfrentar. Uma escolha que envolve vida ou morte. DOIS ANOS DEPOIS, elas encontram-se de novo. É então que a história começa verdadeiramente…
Depois de ler este livro, vai querer falar dele a TODOS OS SEUS AMIGOS. Quando o fizer, por favor, também não lhes diga o que acontece. Permita-lhes saborear a sua MAGIA.

Opinião: Comprei este livro numa Feira do Livro já há algum tempo, entusiasmada com a sinopse e duas ou três excelentes opiniões que li nalguns blogues que sigo regularmente e cuja opinião costumo ter em boa consideração. A verdade é que foi mais um livro cuja leitura foi ficando adiada até hoje.

Mesmo tempo ficado esquecido por algum tempo, tinha boas expectativas quanto a este livro, e peguei-lhe com algum entusiasmo. Pois apesar de ser um livro bastante diferente do que esperava, superou largamente qualquer expectativa. Acho que depois de algumas leituras "mornas" (umas mais entusiasmantes que outras, mas nenhuma realmente empolgante), já precisava de um livro assim, que me envolvesse na sua história, que me fizesse reflectir, cuja leitura me empolgasse a ponto de querer ler sempre mais um pouco, cujas personagens recordarei por longo tempo.

Do enredo em si não quero revelar-vos muito mais, porque penso que a intencionalidade da sinopse é espicaçar a curiosidade de futuros leitores, e concordo que devem ser vocês a "saborear a sua magia". E saborear é o termo adequado, pois foi esse o motivo de não ter lido este livro num ápice, a vontade de apreciar cada capítulo, cada página, cada frase. Adianto apenas a quem ainda não leu, que o tema principal são os refugiados, os contrastes entre 2 mundos tão diferentes, na geografia, nos costumes, na mentalidade. E com isto fazer-nos reflectir sobre o modo como os encaramos, alertar-nos para uma realidade tão próxima e com a qual poucos se preocupam.

Para conseguir tudo isto o autor brinda-nos com a história de 2 mulheres incríveis, Abelhinha e Sarah. E a história de ambas é terrível e dolorosa mas também inspiradora e cativante. O autor vai-nos revelando aos poucos os acontecimentos de há 2 anos, enquanto nos inteira do presente. E a sua maneira de relatar os acontecimentos é excelente, cheia de altos e baixos, de contrastes, num momento estamos mortificados com a crueldade dos acontecimentos e logo de seguida damos por nós com um sorriso nos lábios perante as observações peculiares de Abelhinha.

O que mais gostei neste livro foram mesmo as personagens, em especial Abelhinha, embora Sarah também seja uma mulher extraordinária. Abelhinha é no entanto daquelas personagens que nos acompanham durante longo tempo fazendo-nos sorrir quando pensamos nelas, mesmo que por vezes seja um sorriso melancólico.

E como este livro está repleto de magnificas reflexões não podia terminar sem vos deixar alguns excertos (não consegui escolher apenas um):

"Nas pernas castanhas da rapariga, havia muitas cicatrizes pequenas e brancas. Dei por mim a pensar: Será que essas cicatrizes te cobrem toda, como as estrelas e as luas do teu vestido? Pensei que isso também seria bonito, e peço-vos desde já, por favor, que concordem que uma cicatriz nunca é feia. Aqueles que fazem as cicatrizes querem que nós pensemos que as cicatrizes são feias. Mas nós temos de fazer um acordo para os enfrentarmos. Temos de ver todas as cicatrizes como algo belo. Está bem? Esse será o nosso segredo. Porque, podem crer no que vos digo, uma cicatriz não se forma naqueles que estão a morrer. Uma cicatriz significa: «Eu sobrevivi»." (pág 17)

"Quando me puseram no centro de detenção de imigrantes, deram-me um cobertor castanho e um copo de plástico com chá. E quando eu senti o sabor do chá, só me apeteceu voltar para o navio e regressar ao meu país. O chá é o sabor da minha terra: é amargo e quente, forte, e carregado de memórias. Sabe a saudade. Sabe à distância entre o sítio onde estamos e o sítio de onde viemos. E também desaparece - o sabor dele desaparece da nossa língua quando os nossos lábios estão ainda quentes. Desaparece como as plantações que se perdem no nevoeiro. Ouvi dizer que o vosso país bebe mais chá do que qualquer outro. Isso deve fazer de vós umas pessoas muito tristes - como crianças que anseiam pelas mães ausentes. Lamento." (pág.135)

"O que é uma aventura? Tudo depende do ponto de partida. No vosso país, as miúdas escondem-se no buraco entre a máquina de lavar e o frigorífico e fazem de conta que estão na selva, com serpentes verdes e macacos por todo o lado. Eu e a minha irmã costumávamos esconder-nos num buraco na selva, com serpentes verdes e macacos por todo o lado, e fazíamos de conta que tínhamos uma máquina de lavar e um frigorífico. Vocês vivem num mundo de máquinas e sonham com coisas com corações que batem. Nós sonhamos com máquinas, porque já vimos em que estado é que os corações que batem nos deixaram." (pág. 214)

Por tudo isto, este é um livro que recomendo sem qualquer reserva e Chris Cleave um autor que quero voltar a ler.


2 comentários:

  1. Olá, Nefertari.
    Deste autor li este Pequena Abelha e Incendiário, o seu primeiro romance.
    Quanto ao seu livro de estreia gostei, embora não me tenha convencido totalmente. Já este Pequena Abelha é diferente para melhor. Um excelente livro que me deu muito prazer.
    Cleave já tem publicado o seu terceiro livro mas a temática parece centrar-se maioritariamente sobre relações humanas, anseios e coisas desse tipo. Para alguns leitores será mais um grande sucesso e mesmo aquilo que procuram numa obra. Por mim decidi não o ler. Livros muito sentimentais não me seduzem e por isso aguardarei que o autor escreva outro num registo diferente.
    Boas leituras.

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    Respostas
    1. Olá André,

      Eu também tenho o Incendiário, mas resolvi pegar neste primeiro. Quanto ao Menina de Ouro, ainda não li opiniões, mas a sinopse parece-me dentro do género da Pequena Abelha, mas como é tão vaga posso ter entendido mal.

      "Livros muito sentimentais não me seduzem" :) Eu julgava que era um coração de pedra, mas já vi que há quem seja ainda mais :)

      Boas leituras

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