sábado, 9 de março de 2013

Opinião – Terra de Neve de Yasunari Kawabata


Titulo: Terra de Neve
Autor: Yasunari Kawabata

Titulo Original: Yukiguni
Ano de Publicação Original: 1947

Editora: Revista Sábado
Ano: 2009
Tradução: Armando da Silva Carvalho
Páginas: 179
ISBN: 9788461316144

Sinopse: Shimamura viaja de comboio para um balneário das regiões montanhosas do norte do Japão. Fica cativado por uma voz feminina que ressoa no comboio. A mulher, Yoko, acompanha um homem, Yukio, filho de uma professora de música que vive na vila para onde se dirige Shimamura. Este tem a intenção de se reencontrar ali com uma geisha, Komako, que conheceu numa viagem anterior, quando ela ainda não se dedicava profissionalmente a esses mesteres. Está embelezado com a delicadeza dela, mas resolve ficar unicamente pela amizade, contemplando a possibilidade de futuras visitas. O sugestivo decorrer das estações influirá nestas relações humanas.

Opinião: Este era, como podem ver pela capa, mais um dos livros da coleção da revista Sábado que tinha cá por casa ainda por ler. Como queria conhecer a escrita de mais autores japoneses, e sendo este um livro pequeno, achei que era uma boa opção para conhecer este autor, Nobel da literatura em 1968.

Começo por dizer que até percebo a escolha deste autor para o prémio, pois a sua escrita é de facto muitíssimo cuidada e poética. No entanto desengane-se quem ao olhar para o livro achar, como eu, que será uma leitura rápida. Foi pelo contrário uma leitura morosa, e algumas vezes mesmo penosa.

O autor usa e abusa das descrições, qualquer objecto ou paisagem são descritos até ao mais ínfimo pormenor, com especial ênfase para as cores, pelas quais o autor parece ter uma verdadeira obsessão. Assim, embora tenha de reconhecer que algumas descrições são de facto muito bem conseguidas e tenham a sua beleza, tanta descrição num livro de 179 páginas, faz com que falte o que para mim é essencial, enredo. A história deste suposto amor impossível, que por vezes nos faz duvidar se de amor se trata, foi na minha opinião relegada para segundo plano, face às inúmeras descrições dos lugares, das estações, e dos objetos. E quando pelo meio das descrições o autor volta a dar primazia ao enredo, a sensação com que fiquei é que ou nos relata mais do mesmo ou por vezes até volta ao ponto de partida. O ultimo capitulo é o único a contrariar esta tendência, pois apesar do final poder ser estranho para alguns leitores, foi o que mais gostei.

Este é um autor que supostamente seria perito em psicologia feminina, no entanto a mim as personagens femininas, não causaram qualquer tipo de empatia, posso mesmo dizer que as achei vagas, inconstantes e pouco definidas. Yoko é indecifrável e Komako apesar de impetuosa, é extremamente inconstante. Da personagem masculina, Shimamura, já nem falo porque penso que a sua volubilidade e passividade sejam propositadas.

É possível que tenha sido eu que não consegui situar-me neste Japão longínquo e rural, que estou habituada a autores orientais mais recentes, que não escolhi bem o livro por onde começar, não sei... mas este foi um livro que não me seduziu minimamente. Tenho aqui por casa um exemplar de Mil Grous deste autor, pelo que penso dar-lhe uma segunda oportunidade, mas de deixar passar algum tempo...

Para finalizar fica um pequeno excerto:

"A chaleira antiga que lhe tinha emprestado o hoteleiro, precioso objecto manufacturado em Tóquio e artisticamente cinzelado em prata, com motivos de flores e de aves, cantava docemente como uma brisa entre os pinheiros; conseguia mesmo reconhecer nela dois sopros diferentes, ou seja: o roçar do vento que atravessa os ramos e o ruído vindo de longe. E dentro deste, mais débil ainda, o tilintar longínquo e dificilmente perceptível de um sino. Ouvi-lo-ia ou não? Shimamura aproximou o ouvido para escutar. E muito, muito longe, lá em baixo, onde soava o sino, teve a súbita visão de dois pés que dançavam: os pés de Komako, que dançavam ao ritmo das longínquas badaladas do sino."

Pela qualidade da escrita, por algumas descrições realmente belas e pelo inesperado final...


2 comentários:

  1. Nefertari,
    tenho um gosto e interesse particulares por livros de autores japoneses. Estou a pensar em Murakami e Taichi Yamada, por exemplo. Em ambos os casos a sua escrita tem algo de inquietante, perturbador, que me agrada imenso. É evidente que ser nipónico não é, por si, sinónimo qualidade no que aos livros diz respeito e neste ponto vou de encontro à tua opinião neste livro.
    Por tudo o que explanas na tua interessante e bem conseguida opinião acredito que não tenhas tido um grande prazer ao ler a obra. Pegando no excerto que nos ofereces e tomando a parte pelo todo também eu, certamente, não iria apreciar muito este livro.
    Boas Leituras! :)

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    Respostas
    1. Olá André,
      Murakami é um dos escritores que mais aprecio, já li vários dos seus livros e nenhum me desapontou. Quanto a Taichi Yamada tenho por aí 2 dos seus livros que encontrei usados e muito em conta, mas ainda não lhes peguei... se calhar era num desses que devia ter pegado na minha tentativa de conhecer mais alguns autores nipónicos.
      Quanto a este, de facto prazer na leitura, foi coisa que não consegui, e o problema aqui nem foi a qualidade, foi mais o enredo ou melhor dizendo a falta dele.
      Mas, como sempre, há quem tenha adorado o livro...
      Boas leituras e bem vindo :)

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